regava de molho, com uma longa colher de ferro, as grossas peças de carne que assavam nos espetos, mais longos que lanças de guerra. Dois lebréus brancos enroscados dormiam diante do lume. E rente do muro, sentados em tripeças, já os moços das abegoarias, os pastores, os cordoeiros, esperavam a ceia, calados, com os seus gorros na mão.
Mas um pajem, de longos cabelos encaracolados, e trazendo um jarro lavrado, ergueu ao fundo a grossa cortina de estamenha, que tapava uma imensa porta em arco, ornada com duas cabeças de lobos. E o bom lenhador dobrou humildemente o joelho, entrevendo para além, já alumiada para a ceia, por tochas de cera, a sala senhorial: a vasta mesa atapetada de ervas frescas; as duas lanças transversais por cima, suspensas do teto por correntes de ferro, carregadas de grossos pães de sêmea; a alta cadeira de espaldar, no topo, encimada por um alto brasão, tendo ao lado um poleiro, onde dormiam dois falcões; a imensa chaminé de pedra, ao fundo, com figuras em relevo que agitavam armas. Todos os servos se tinham erguido. E quase imediatamente, arrastando os seus sapatos de pano amarelo, o despenseiro apareceu, calvo e gordo, com o seu molho de chaves. Era ele que distribuía a ração aos pastores, aos cordoeiros, aos tosquiadores, aos forneiros, e aos outros servos do domínio que