A Lua, curva como uma barca do Nilo, ou redonda e faiscante como a roda de um carro sagrado, roçava o cimo negro da Cordilheira Arábica. Na ravina os chacais uivavam descendo à fonte. Depois, tudo emudecia – e Onofre encostado ao parapeito, embebido na frescura e na paz do luar, sentia, naquele silêncio universal, o bater cansado do seu coração. Mas mesmo esses instantes de repouso os dava ao Senhor – atribuindo somente à sua misericórdia o impulso que o arrancara de entre os homens, e do lodo em que eles se debatem, e o trouxera à pureza desta solidão, onde a eterna verdade se avista tão claramente, como aquela grande Lua, lustrosa e consoladora. No seu reconhecimento, de novo se abatia ante a cruz, e era de joelhos, cantando um derradeiro salmo, que, depois de se arrastar três vezes em torno do seu eirado, Onofre penetrava na sua negra caverna, e se estendia, contente, no seu leito de folhas secas.
Assim, naquela vastidão de areias, que ondulava do Egipto até à Arábia, sob essa imensa curva do céu onde se cansava a asa das águias e dos ventos, se movia aquela forma solitária, única entre tanta imensidade, sempre diligente como uma abelha que faz o seu mel – orando de braços abertos, cavando a terra, folheando o livro santo, trepando os degraus da caverna com o seu odre de água, de rojo nas lajes