murmurando: «Ah se tu quisesses!» E ele, forçado pelo terror de Deus, e dos riscos que corria a sua alma – forçado a não ter piedade, e forçado a não querer!
Mas não comprometia ele também, com aquela dura inércia, o derramamento da Fé, e da Lei do Senhor? Não findariam, aquelas gentes simples, por se desprender de um Deus que eles viam tão desatento e alheio às suas misérias? Já quando ele ensinava o Deus Novo, nas faces, em redor, havia desconfiança e desdém. Nas suas longas orações, então, pedia ao Céu uma inspiração. Mas do Céu emudecido, e fechado para ele, nenhuma inspiração descia sobre o seu espírito angustiado. Redobrava as penitências, torturava com o cilício o seu pobre esqueleto, alongava os duros jejuns, clamava por Deus do fundo da sua incerteza. E Deus permanecia impenetrável. Com esta dor da sua alma, ele ia ficando mais macerado, mais abatido, mais velho, do que com trinta anos de trabalhos no Deserto. Já quase não se sustentava direito: e caminhava tão trémulo, apoiado ao seu bordão, que um pouco de vento o poderia derrubar. A sua consolação seria que aquele povo o ultrajasse pela sua crueldade, a sua resistência a fazer o bem supremo. Oh! se o amaldiçoassem! Se o apedrejassem! Cada pedra, que o ferisse, a ofertaria ele ao Senhor, como uma evidência da sua humildade. Mas,