Mas Onofre via o Inferno – e fugiu, fugiu, soluçando, arrepelando as barbas, num desespero infinito... Fugiu do casebre, fugiu da aldeia. Duas vezes caiu, tão trôpego e débil. E ia atirando sempre os passos trémulos para longe dos homens e do seu perigo, para a solidão inviolável, onde não estivessem os homens, e estivesse a Morte. Todo o dia assim se arrastou. E o Sol descia num céu de ouro, quando os seus olhos, cansados, e mal seguros através das lágrimas, avistaram arvoredos, e casais, outra aldeia, na orla dos areais. Onofre tinha fome e tinha sede: – e querendo só forças para continuar o sofrimento, arrastou os passos para uma cabana mais isolada, feita de adobe e canas, apoiada contra um longo muro, um antigo resto de muralha. Uma rapariga, que voltava da fonte, pousara à porta da cabana, sobre uma pedra, o seu cântaro de barro; e vendo aquele velho, de imensas barbas, em farrapos, que avançava tropegamente na poeira do caminho arrimado ao seu bordão, ficou como à espera dele, com uma piedade nos seus largos olhos negros. Onofre estendeu a mão para uma esmola. Ela entrou na cabana onde uma criança chorava lentamente, num choro cansado, doente.
Quando voltou com um pedaço de pão duro e velho, já Onofre se abatera, de fadiga, sobre