manto negro, se adelgaçavam, se tornavam transparentes. Já deixavam distinguir, sob as suas pregas, as brancuras vagas de um corpo divino. O longo manto não era mais que um véu tão leve, que nem vergava as pontas finas das relvas. O vestido era tão fino, que se colava aos selos, se enrolava nos joelhos. E, quando a mulher maravilhosa chegou junto do seu rosto, toda a sua nudez, mais bela que a de Helena, de Vénus, resplandecia, mais branca, sob a ténue névoa de uma gaze negra.
Então aquele corpo maravilhoso se debruçou sobre ele, que lhe sentia o calor, o perfume. E os Lábios vermelhos e fortes deram nos seus, que tremiam, um beijo tão profundo, que um grande grito de gosto doloroso fugiu do seu peito. Acordou: – e ao lado, de pé, já com o seu largo sombreiro posto, o Senhor de Astorga afivelava o cinturão da espada.
– Boa sesta fizemos, Senhor D. Gil! A tarde está fresca e é tempo de cavalgar, se queremos ainda hoje chegar a Alba de Tormes.
D. Gil ainda tremia. E os seus olhos inquietos procuravam em redor, numa saudade daquele sonho divino que findara.
Montou em silêncio na sua mula, que Pêro Malho já tinha à rédea. E quando saiu daquele doce prado, ainda se voltou na sela, olhou a relva, a água serena do lago, a ilha, o arvoredo