esse rico e ruidoso clube onde se conversa, irresponsavelmente e de chapéu na cabeça, sobre todos os negócios do Universo; mais interessante mesmo que essa rajada de paixão patriótica que atravessou Portugal e que nos levou a pedir à Europa, por meio de folhetos em verso, que se aniquilasse a Inglaterra; mais interessante que tudo, para mim, homem de livros – é o singular e brilhante testamento do Comendador Peres Cardoso.
Foi em meados de Abril que os jornais de Lisboa, num tom feito de assombro e de incredulidade, copiaram dos jornais do Rio de Janeiro a notícia de ter morrido um Comendador chamado Peres Cardoso, natural de Cinfães, deixando um testamento extraordinário, concebido quase todo em favor da literatura, com maços de apólices a distribuir entre poetas e romancistas, doações de livros, em lotes de cinquenta volumes, a todo o escritor que fizesse cortejo ao seu caixão, deixas de prédios para fundar jornais – a esplêndida despedida de um Mecenas, que atravessa da sua biblioteca para a sua sepultura, arremessando punhados de ouro sobre a multidão de letras. E entre todas estas prodigalidades lá sobressaía uma, a mais tocante, a que me põe agora a pena na mão – os doze contos de réis, em apólices da dívida pública, deixados, não a seis padres, nem mesmo a seis advogados, mas a seis simples fazedores