Para experimentar, com receio que em tão grande corpo habitasse Satanás, fez o sinal da cruz, murmurou três vezes o nome de Jesus. Cristóvão fez também uma cruz sobre a testa. Então, tranqüilo, o guardião começou a andar em volta dele, batendo os calcanhares nos ilhais da mula, para o, examinar, como um monumento. E a cada grosso músculo, a cada detalhe de força, uma idéia surgia nele: e falava baixo ao outro, que aprovava, com um sorriso reverente. Por fim o guardião gritou: “Cristóvão, se queres ganhar o teu pão, vai amanhã, a matinas, à portaria do convento.”
Os dois frades picaram as mulas, pouco a pouco a gente recolhera às casas, de onde saía o fumo das lareiras acesas. Uma a uma, as estrelas brilhavam. E Cristóvão só, cansado, estirou-se junto ao cruzeiro, onde o sacristão veio acender uma lâmpada.
Estirado de costas, Cristóvão olhava as estrelas. Eram as mesmas que ele tantas vezes contemplava na serra: - mas pareciam-lhe mais brilhantes, mais próximas, e derramando um calor como lâmpadas que alumiam uma morada humana. E ele mesmo, enfim, sentia vir daqueles casebres que em volta se acendiam e mandavam o seu fumo para o céu, um calor que o penetrava até o coração. Adormeceu sorrindo.