figura se movia no trabalho contínuo: só por vezes descansava, para tirar do poço um balde de água, que punha à boca, e secava de um trago. À noite, estendido sobre as lajes do pátio, dormia de um sono de animal, entre os cães soltos, que lhe punham as patas sobre o peito, como sobre um rebordo de muralhas, para ladrar contra os ruídos da noite.
Todos os anos, na véspera da Candelária, o padre-mestre reunia os serventes, e interrogava-os sobre a doutrina. Cristóvão não pôde responder, nem sequer enfiar o padre-nosso. Não sabia quem criara o Mundo – e eram-lhe desconhecidos os casos do Paraíso. Aterrado com tão negra ignorância, o abade ordenou que Cristóvão assistisse à aula de História Sagrada. O seu imenso corpo não cabia nos bancos da escola: - e o padre-mestre dispôs que Cristóvão, encostando-se ao muro do pátio, aplicasse a cabeça à janela aberta da aula.
Quando a sineta de estudo tocava, Cristóvão chegava ao muro: - e a sua imensa grenha surgia no parapeito da janela. Todos os discípulos riam – e os mais inquietos atiravam-lhe aos olhos caroços de frutos ou vibravam-lhe, como pequenas lanças, penas de pato que se lhe enterravam na grenha. Ele sorria com paciente respeito.
Sentado no estrado o mestre ensinava – e Cristóvão, como através de um névoa,