quizer honrar o seu objecto. Machado de Assis temia acima de tudo o barulho e a scintillação das palavras vasias, que tanto agradam aos espíritos futeis. A sua face triste e suave, o seu modo natural, a brandura da sua palavra e do seu gesto, a modéstia dos seus gostos, a moderação dos seus juizos, a sua philosophia que condemnava como crimes as cegueiras da paixão, e o seu estylo que repudiava como vicios os exaggeros rhetoricos — tudo nelle aconselhava e pedia, não o applauso frenetico, mas a affeição sincera e a consideração intelligente; tudo nelle parecia dizer: não me admireis; amai-me, e comprehendei-me. ..
Amaram-n’o com extremada ternura os seus Íntimos; comprehenderam-no e comprehendem-no os seus companheiros e condiscípulos, os seus irmãos em arte, aquelles que, pelo habito de pensar e de escrever, podem sentir e entender o inegualavel thesouro de idéas e de expressões que se encerram nos seus livros, monumento perenne votado á gloria da lingua vernacula. Não o comprehendeu ainda todo o seu paiz, porque elle foi de algum modo um homem superior á sua época e ao seu meio; mas essa comprehensão unanime ha de vir com o tempo, com o aperfeiçoamento progressivo e fatal dos homens, com a fixação definitiva de uma cultura geral que já começa a affirmar-se. Então, o Mestre será admirado, com a admiração consciente e preciza que a sua obra requer; e a historia da nossa civilização ha de guardar com orgulho esse formoso legado, esses livros em que o scepticismo vive de par com a piedade, em que a misericórdia pela miséria humana tempera o amargor da ironia, em que a descrença é adoçada pela bondade, e em que as idéas