Se Gonçalves Dias foi o grande feiticista dos olhos, o grande feiticista da boca foi um velho poeta nosso, o nosso velho Gonzaga, pastor da Arcadia Mineira, o suave Dirceu de Marilia. As Lyras de Dirceu estão cheias de louvores ardentes á boca de Marilia. A boca de Marilia era um assombro, uma obra prima, para cujo esplendor contribuiam sumptuosamente todos os reinos da Natureza. Um poeta popular disse de uma boca desconhecida:
A tua boca, menina,
E’ uma casa com jardim!
As portas são de coral,
Os degraus são de marfim...
Mas a boca de Marilia era ainda mais rica: tinha flores, tinha pedras preciosas, mel, ambrosia. Dizia o poeta a Glauceste:
Para pintar, Glauceste,
Os seus labios graciosos,
Entre as flores tens o cravo,
Entre as pedras a granada.
E logo:
As abelhas, nas azas suspendidas,
Tiram, Marilia, os sucos saborosos
Das orvalhadas flores;
Nunca fartos amores,
O mel não sorvem, sorvem ambrosias,
Pendentes de teus labios primorosos.