ofrimento lhe tocasse o coração empedernido?!
— Duvido, minha mãe – objetou Úrsula – duvido. Para que vem ele perturbar o nosso sossego?
E entrou a cismar sobre tão inesperado e estranho assunto. Falava em sossego! Como se ela o gozasse há dias! Depois dessa desgraçada entrevista da mata, sentira um só dia o que era tranquilidade? Não, por certo. Mas, Fernando P***! Que vinha ele aí fazer? Úrsula tinha horror a semelhante parente, e implorava ao céu o arredasse sempre da sua vista. Graves suspeitas pesavam sobre o comendador, e a infeliz órfã não podia lembrar-se dele sem temor.
E Luísa tinha suas razões; por isso, agora mais que nunca, estava aflita e inquieta, mas Úrsula, para tranquilizá-la, disse:
— Porque estais assim a tremer, minha querida mãe? Que mal vos poderá ele fazer além dos que já tem feito? Ele vos fala em perdões, trata de uma conversão...
— Operada pelo céu, que a ele mesmo admira! – Tornou Luísa, interrompendo sua filha, que cada vez se sentia mais inquieta. Esta conversão assemelha-se a todos os atos de sua vida: esta conversão deve nos ser funesta!
— Pensais isso, minha mãe? – interrogou a pobre Úrsula pálida e convulsa.
— Sim, minha filha, e quase que te posso assegurar.
— Santo Deus! – exclamou Úrsula, precipitando-se para fora do quarto de sua mãe, e cobrindo o rosto com as mãos ambas.
O caçador desconhecido acabava de entrar sem anunciar-se.