e ali; porque os desgraçados escravos do comendador, espectros ambulantes, não dispunham de uma só hora no dia, que pudessem dedicar em benefício de suas moradas; à noite trabalhavam ordinariamente até o primeiro cantar do galo. Esfaimados, seminus, espancados cruelmente, suspiravam pelas duas ou três horas de sono fatigado, que lhes concedia a dureza de seu senhor.
Desgraçados! Que até a hora das trevas e do repouso, à hora em que a brisa geme apaixonada, como amante que anela o ardente hálito do seu adorador, em que a erva escuta o segredo terno da viração, em que o cantor da espessura afaga o plumígero habitante de seu ninho amoroso, um momento de sossego e amor lhes é vedado!
Não há descanso para o seu corpo, nem tranquilidade para seu espírito desvairado pelo terror de tantos e tão contínuos sofrimentos!
Mísero escravo!!!... Tantas dores há em seu coração; e nós as não compreendemos!...
Túlio tinha recaído em suas profundas meditações, e Tancredo, que começava a sentir-se feliz com a ideia de rever o objeto de seu amor, admirava a beleza natural dessa soberba situação, quando de repente, voltando-se para o seu companheiro, perguntou-lhe:
— Habitaste algum dia estes lugares, meu Túlio?
— Se os habitei, perguntais?! Ah! Este é o lugar de meu nascimento; mas que detesto, que eu amaldiçoo do fundo da minha alma; porque aqui minha pobre mãe, à força de tratos os mais bárbaros, acabou seus míseros dias!
— Oh! – exclamou Tancredo vivamente tocado.