— Ah! Meu senhor – exclamou o escravo enternecido – como sois bom! Continuai, eu vo-lo suplico, em nome do serviço que vos presto, e a que tanta importância quereis dar, continuai, pelo céu, a ser generoso e compassivo para com todo aquele que, como eu, tiver a desventura de ser vil e miserável escravo! Costumados como estamos ao rigoroso desprezo dos brancos, quanto nos será doce vos encontrarmos no meio das nossas dores! Se todos eles, meu senhor, se assemelhassem a vós, por certo mais suave nos seria a escravidão.
E o cavaleiro perguntou-lhe:
— Essa é, Túlio, toda a recompensa que exiges?
— Sim, meu senhor. Fizeste-me tão feliz, que nada mais ambiciono; e rendendo a Deus graças pela minha presente ventura, suplico-lhe que vos cubra de bênçãos, e que vele sobre vós a sua bondade infinita.
E o negro dizia uma verdade; era o primeiro branco que tão doces palavras lhe havia dirigido; e sua alma, ávida de uma outra alma que a compreendesse, transbordava agora de felicidade e de reconhecimento.
Pobre Túlio!
E o mancebo sentia mais e mais crescer-lhe as dores, e as ideias se lhe barulhavam: entretanto Túlio aproximava-se da casa de sua senhora para onde conduzia o moço enfermo.
Empregava para isso todas as suas forças, porque conhecia que o moço sofria cruelmente.
Dentro em pouco sua tarefa concluiu-se. Túlio penetrou, rendido de cansaço, o lumiar da porta.
Simples e solitária era essa casa implantada sobre um pequeno outeiro, donde a vista dominava a imensidade dos campos. Um aspecto de nobre singeleza