dos lábios espumantes, pintava-se-lhe no todo a desesperação, e o ódio infame, e a vingança não satisfeita.
Era Otelo no seu ciúme, Satanás expulso do céu e ferido no orgulho.
Parecia nada ter visto, nem ouvido do que se passava em torno de si, porque continuou no seu passeio insano malgrado o ranger sinistro dessa porta, que gemeu nos gonzos como o sibilar da serpente.
Cruzou o quarto ainda por muitas vezes, depois, estendendo a mão para os seus dois sicários, acenou-lhes para a porta.
Esta ordem muda foi prontamente cumprida. Os sicários saíram – a porta tornou-se a fechar.
— Queres tu servir-me? – perguntou o comendador com um tom seco e breve.
Túlio conheceu que estava perdido; mas recobrando toda a sua energia, como sucede sempre ao homem nos lances apertados da existência, respondeu sem hesitar:
— Dizei, meu senhor, o que determinais ao vosso escravo?
— Dize-me, onde está Tancredo?
Como se fora um ferro na brasa, esse nome pareceu requeimar-lhe os lábios, que tingiram-se de uma cor lívida, e tremeram convulsos.
— Creio que está em sua casa – redarguiu o negro sem perturbar-se.
— Mentes! – gritou-lhe o comendador, devorando-o com horrível olhar – Mentes! ... Parvos! Julgam que o meu ódio os não segue como as suas próprias sombras!
E tu, vil escravo! Pretendes iludir-me?! Sim, demais me tarda a hora da vingança!... Úrsula, encerrada