enorme remorso... Fernando P. pela vez primeira compreendeu o que era a dor no coração de outrem! Gemeu de aflitiva angústia ante o supremo sofrimento da mulher que amava; e invocou-a com ternura.
— Úrsula! Oh! Quanto te hei amado! Poderás tu compreender a extensão dos meus afetos, e eu não sentira agora envenenarem-me a alma a desesperação e o remorso. Desdenhaste o amor do meu coração... Por quê? Não era ele puro como a tua alma? Donzela! Se te dignasses lançar a vista sobre o meu sofrimento, talvez te apiedasses de mim, e acreditasses na minha afeição; porque muito hei sofrido, Úrsula, muito.... Desde o dia fatal em que te vi na mata, esqueci o meu orgulho, e uma ardente e inextinguível paixão me abrasou a alma. Nesse dia, eu jurei pelo céu ou pelo inferno que serias minha esposa. Perdoa, Úrsula. Nesse dia, ainda eu era orgulhoso. Hoje peço-te suplicante: negar-me-ás? Úrsula, em nome do céu, uma só palavra, ainda que essa seja para amaldiçoar-me...
E dizendo, rojava-se pelo chão, e beijava-lhe a fímbria de seu vestido.
Então ela desvendou os olhos, e pôs-se a contemplá-lo, muda e impassível como se nada a inquietasse; e depois de alguns momentos levantou-se, deu alguns passos vagarosos e incertos, e voltando-se para Fernando, que a seguia com a vista e o coração, deixou escapar um sorriso descomposto, que o gelou de neve.
E Fernando P. conheceu que estava punido! Varreram-se suas afagadoras esperanças. Nesses olhos espantados