o fogo de um primeiro amor, bem o conhecia, e revoltava-se contra esse sentimento, que supunha não ser compartilhado, e atribuía-o a simples amizade. Embalde o coração lhe gritava, esclarecendo-a, ela julgava-se humilhada, reassumia toda a sua dignidade em face do cavaleiro, e só na solidão derramava o pranto de amargo e oculto padecer.
Entretanto, nessa madrugada em que Úrsula, ferida pela mais profunda angústia, sentara-se junto ao altivo jatobá que ficava a cavaleiro às demais árvores, pensava em que o mancebo ia nesse mesmo dia partir, e esse pensamento era-lhe como o leito de Procusto. O coração desfalecia-lhe de dor, a vida parecia-lhe agora inútil e fastidiosa. Sentiu leve arruído de folhas secas como que calcadas sob os pés que se moviam cautelosos, e despertou. E o arruído não cessou. Então a jovem donzela, meio assustada levantou os olhos, e perscrutou em derredor; mas nada viu. Seria talvez alguma fugaz cotia que atravessa o bosque correndo. Então Úrsula de novo voltou aos seus sonhos; mas um momento depois os passos eram já mais próximos, ela tornou o olhar, e mais amedrontada, quis erguer-se, quis sair correndo; porém uma força oculta, irresistível, a deteve, e os passos muito perto estavam dela. Úrsula, temerosa, e sem poder atinar com quem seria, estremeceu, mas não de verdadeiro medo, antes por um pressentimento incompreensível e que às vezes pressagia vagamente algum acontecimento futuro da nossa vida. Úrsula tudo ignorava; mas alguém com íntima satisfação descobriu seus passeios matinais, alguém, que sentia a necessidade de vê-la, de falar-lhe um momento, e que devassou-lhe o retiro e foi perturbá-la em sua meditação.