Essa mão era leal e generosa, e Luísa B. sentiu-se comovida; porque era a primeira pessoa que a visitava em sua triste morada, e que em face de sua enfermidade a não desdenhava, nem sentia repugnância da sua miséria e do seu penoso estado. E por isso disse com reconhecimento que tocou o mancebo.
— O céu vos proteja, senhor; porque sois generoso e bom. E quereis partir? – acrescentou com benevolência.
— Sim, senhora – tornou-lhe o cavaleiro com voz firme; mas magoada por aí lhe ficar parte do coração – o dever me chama. Acho-me restabelecido, e não devo por mais tempo abusar da vossa bondade. Com desvelo e carinho, e sem que eu o merecesse tendes me dado um novo existir, venho pois protestar-vos minha gratidão. Se algum dia – continuou depois de breve pausa – as vicissitudes da sorte vos obrigarem a recorrer a alguém, esse alguém seja eu; porque, senhora, jamais me esquecerei da franqueza e da bondade com que me acolhestes.
— Sim, senhor – redarguiu a enferma – creio em vós; porque sois generoso e bom: o fostes para com Túlio, sê-lo-eis também para comigo: mas...
E olhou para sua filha, que pálida e perturbada como a flor na ardentia da sesta, descaída a face nas mãos, estava à sua cabeceira, e suspendeu-se.
Luísa B. queria dizer: — eu peço para mim nada mais que a sepultura; mas se sois cavaleiro, se tendes virtude na alma, protegei essa pobre órfã. Mas aquele homem era-lhe desconhecido, e a ideia de sua próxima morte ia despertar em Úrsula sentimentos dolorosos. A pobre mulher calou-se.
— Falai, minha querida senhora – apressou-se o mancebo