
"Meu conto de Maupassant"
ONVERSAVAM no trem dois sujeitos. Approximei-me e ouvi:
— "Anda a vida cheia de contos de Maupassant; infelizmente ha poucos Guys...
— "Porque Maupassant e não Kipling, por exemplo?
— "Porque a vida é amor e morte e a arte de Maupassant é simplesmente um enquadramento engenhoso do amor e da morte.
Mudam-se os scenarios, variam os actores mas a substancia persiste — o amor sob a unica face impressionante, a que culmina n'uma posse violenta de fauno incendido de luxuria, e a morte, o estertor da vida em transe o quinto acto, o epilogo physiologico. A morte, meu caro, e o amor são os dois unicos momentos em que a jogralice da vida arranca a mascara e freme num delirio tragico.
— "?
— "Não te rias. Não componho phrases. Justifico-me. Na vida. só deixamos de ser uns palhaços inconscientes a macaquear-nos uns aos outros, a copiar gestos de civilizações e a mentir á natureza, quando esta, reagindo, põe a nu' o instincto hirsuto, ou acena o "basta" final da morte, recolhendo o ruim actor ao pó.
Só ha grandeza, em summa, e "seriedade", quando cessa de agir o pobre jogral que é o