Prometeu. — Olha bem para mim, palpa estas mãos. Vê se existo.
Ahasverus. — Moisés mentiu-me. Tu Prometeu, criador dos primeiros homens?
Prometeu. — Foi o meu crime.
Ahasverus. — Sim, foi o teu crime, artífice do inferno; foi o teu crime inexpiável. Aqui devias ter ficado por todos os tempos, agrilhoado e devorado, tu, origem dos males que me afligiram. Careci de piedade, é certo; mas tu, que me trouxeste à existência, divindade perversa, foste a causa original de tudo.
Prometeu. — A morte próxima obscurece-te a razão.
Ahasverus. — Sim, és tu mesmo, tens a fronte olímpica, forte e belo titão: és tu mesmo... São estas as cadeias? Não vejo o sinal das tuas lágrimas.
Prometeu. — Chorei-as pela tua raça.
Ahasverus. — Ela chorou muito mais por tua culpa.
Prometeu. — Ouve, último homem, último ingrato!