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São impudicos extraordinariamente, mais as raparigas do que qualquer outros inventores de noticias falsas, mentirosos, levianos e inconstantes, vicios mui communs a todos os incredulos, e por ultimo são extremamente preguiçosos a ponto de não quererem trabalhar, embora vivam na miseria, antes do que na opulencia por meio do trabalho.

Se elles quizessem, não era necessario muito cansaço para terem em poucas horas muita carne e peixe.

O que acabo de dizer, refere-se especialmente aos Tupinambás, porque as outras nações, como sejam os Tabajares, Cabellos-compridos, Tremembés, Canibaes, Pacajares, Camarapins, e Pinarienses, e outros trabalham muito para viver, ajuntar generos, ter boa casa, e todas as commodidades.

Vou dar-vos um exemplo bem notavel da preguiça dos nossos Tupinambás.

Obtendo alguns Francezes do Forte licença para irem passear ás aldeias, foram á do chefe Vsaap.

Na entrada da primeira choupana encontraram um grande fumeiro cheio de caça, e ao lado d’elle um indio, dono da casa, deitado n’uma rede de algodão, que gemia muito como se estivesse bastante doente.

Os nossos Francezes alegres e promptos á festejarem esta mesa tão bem preparada, lhe perguntaram com brandura e carinho Dê omano Chetuasap, «está doente meo compadre?» Sim, respondeo elle. Que tendes, replicaram os Francezes, quem vos fez mal? Minha mulher, disse elle. Foi para roça desde pela manhã, e eu ainda não comi. A farinha e a carne está tão perto de vós, porque não vos levantaes, para comer, disseram os francezes? Sou preguiçoso, não sei levantar-me. Quereis, tornaram os francezes, que vos levemos a farinha e a carne, e comeremos comvosco? Quero, respondeo elle logo.

Começaram todos a aliviar o fumeiro, pozeram tudo diante d’elle, e assentando-se em roda, como é de costume, excitaram-lhe o apetite pela boa vontade que mostravam, e