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ser o mal, que haviam chupado, e fazendo acreditar ao doente.

Á este respeito o Sr. de Pezieux e eu passamos um dia alegre na aldeia de Vsaap.

Um pobre moço selvagem estava atacado pela colica do paiz.

Veio um d’estes feiticeiros exercer sua attração de espirito sobre o seo ventre, fazendo muitos tregeitos, e retrahindo-se por diversas vezes vendo-nos prestar-lhe muita attenção, e apesar de tudo isto o doente continuava a gritar. Veio o feiticeiro depois procurar-nos e mostrando-nos dois outros pregos nos disse — «eis o que lhe tirei do ventre, cujos intestinos estão cheios d’isto, é preciso tiral-os um por um. Si eu não os tirasse todos, lhe cravariam as tripas e a garganta.»

Imbuio a este moço, sempre gritando, que lhe tinha tirado do ventre esses pregos.

Si essas casas fossem cobertas de ardosias, penso que meteria na cabeça d’esse rapaz ter elle comido as ripas e os pregos; mas não sendo communs entre elles pregos de ferro, não sei como poude illudir os assistentes com tal loucura.

Poderia referir muitos outros exemplos, porem bastam-me estes ao meo fim.

Ora si é coisa digna de admiração vêr o Espirito Infernal em tudo quanto acabamos de dizer até aqui, muito maior deve ser o nosso espanto pelo que vou dizer, isto é, pela existencia da confissão auricular entre os selvagens.

Nada digo que não ouvisse da bocca de Pacamão, de outros selvagens e dos franceses.

O grande Pagy, na sua provincia de Commã, ia visitar, quando lhe aprasia, as aldeias do seo dominio, ordenando que todos fossem confessar-se com elle, especialmente as mulheres e as raparigas, e quando encontrava alguma que se recusava a dizer tudo, elle a ameaçava com o seo espirito, que as havia de atormentar, e tinha muita finura para