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suas canoas, lhes traziam tanta caça, que d’ella não sabiam o que fazer.

Contou-me um fidalgo, que andou n’essa viagem, haver morto com um só tiro tres javalis,[NCH 9] o que não poderia acontecer se estivessem espalhados.

Ha muitas arvores carregadas de cortiço de mel de abelhas, as quaes são mais pequenas e franzinas do que as nossas, porem mais industriosas, pois fabricam mel excellente, liquido, e tão claro como agua potavel pura, guardado em pequenas celulas de cera da grossura da casca de um ovo, similhantes na forma á nossas garrafinhas de vidro, e penduradas com alguma ordem n’uma arvoresinha de cera, que se acha encostada ou presa pelos ramos ao tronco, ou nas cavidades das arvores das florestas ou dos prados.

Com este mel fabrica-se vinho muito forte e quente para o estomago, similhante na côr e no gosto ao de Canaria. Nossa gente, quando por lá andou, fez algum vinho, e com elle embebedou-se.

Existe tambem ahi uma especie de mel, impropriamente, assim chamado, porque é tão azedo, como vinagre, e fabricado por outra especie de abelhas.

Alguns dias depois que ahi chegou nossa gente, procuraram os Tabajares,[NCH 10] e suas habitações: encontraram, não os que procuravam, e sim os Aiupaues,[NCH 11] e caminhos recentemente abertos.

Vendo que diminuia a farinha, da qual apenas poderia ter quanto bastasse para regressar a Maranhão, essa mesma muito pouca, deliberou regressar com os seos selvagens, deixando ahi somente dois escravos Tabajares, a quem deram farinha para um mez, e diversos generos, promettendo-lhes liberdade com certesa, e boa recompensa si fossem procurar e achassem seos similhantes, o que acceitaram e cumpriram aproximando-se das suas aldeias e gritando para não serem flexados, visto andar esta Nação em guerra com uma outra visinha. Aos seos gritos accudiram muitos, aos quaes contaram o que traziam, como estavam em Maranhão os