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as paredes...

— Quase não mudou nada, observou a tia.

— Alguma coisa. Aquela palmeira, por exemplo, explicou Gonzaga de Sá, apontando à janela, é nova.

— Nova! Tem mais de vinte anos, fez D. Escolástica.

— Nova, sim! Se não nos viu nascer...

Olhei ainda uma vez a altiva elegância da árvore, lá, muito no alto, pairando sobre toda a cidade, e a beijar as nuvens radiantes. Há mais de vinte anos sofria a violência inconstante dos ventos; há mais de vinte anos escapava à raiva traiçoeira do raio; há mais de vinte anos suportava o rugido inofensivo do trovão.... Todas essas negações, e as outras vindas da terra dura, granítica e pobre, fizeram-na maior, mais airosa, deram-lhe mais orgulho e atiraram-na aos ares altos. Hoje, plana sobre tudo, sobre a cidade, sobre a ingratidão do granito e olhará compassiva e desdenhosa as pobres e cuidadas árvores que enfeitam as ruas. O jantar começou a ser servido por um copeiro dos seus dezoito anos. Acabando de tomar a sopa, Gonzaga de Sá, que tinha o pequeno jornal na mão, disse-me:

— Eu não quero adiar o prazer que te prometi.