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— Um super-homem! considerou o invejoso Domingos.

— Que diabo chamam vocês super-homem? pergunta o Rangel.

— Um cidadão que fica além do Bem e do Mal — é simples.

Rangel ficou satisfeito com a explicação e ficou a ouvir o Domingos, que falava, movimentando a avelhantada fisionomia de romano antigo, fisionomia desgostosa de Sêneca que não tivesse sido preceptor de príncipe. Dizia ele:

— Em meu parecer, nesse negócio de amor o que vale são os preliminares, os estados d’alma preambulares, a agonia da esperança de obter ou não o objeto amado. Mas, quando, se o toca...

— Fura-se a bolha de sabão, concluiu o Amorim.

Não pudemos ir além no desenvolvimento desse velhíssimo tema que, não sabemos como, havia ocorrido na nossa conversa. Inesperadamente, o meu querido amigo Gonzaga de Sá entrava no café. A chegada do velho funcionário à nossa ruidosa roda causou-me surpresa. Não tinha aquele ódio fingido pelos cafés, que é de habito encontrar-se em todo o sabichão estéril e infalível. Por certa conversa