caminhava calado, de cabeça baixa, com o seu vasto crânio venerável exposto ao sol. Vinha distraído, esquecera-se de por o chapéu; e eu não quis perturbar o seu recolhimento, lembrando-o. Engolfado naturalmente na dor de perder aquele obscuro amigo, para cuja vida mediocremente feliz tanto ele concorrera generosamente, olhava a ponta dos pés, com a fisionomia endurecida e os olhos úmidos. Aquela amizade devia muito consolá-lo, a seu modo, do abandono e da solidão da sua velhice sem afeto. Gonzaga de Sá seria um apaixonado que não conseguira a tempo encaminhar o seu temperamento para um objeto qualquer, ficara de parte, guardando suas paixões, escondendo seus gestos, tanto por timidez como por orgulho? Seria isso de modo que, ao lhe chegarem os anos, já por fadiga, já pelas exigências da sua compleição, tivera que encaminhar para aqui e para ali, para este ou para aquele objeto, os ímpetos do seu coração, indo ter eles a insignificância, a modéstia daquele contínuo, de forma que encontrara nessa afeição um derivativo para o seu grande sofrimento, nascido quando a idade lhe fez assomar na consciência a imagem da sua esterilidade sentimental? Quem sabe?