— Como lhe devia ter sido dura a vida! Aos quatorze anos, é metido numa escola que mais é uma prisão. De corpo em corpo militar vaga, sofrendo as durezas da disciplina e também a da hierarquia. Tudo isso lhe custa o viço da vida. Tira-lhe a iniciativa, a sensação do que pode por si... Um belo dia fazem-no servente e ei-lo a receber humilhações de todo um corpo de funcionários pretensiosos, desde o ministro até o contínuo. Casei-o. Ele, valente, que nascera em lugar em que a bravura pessoal é exigida para a própria vida comum, tinha medo de sair com a mulher porque... oh! nem é bom contar.
E continuou a comer os pratos seguintes, trocando uma reflexão ou outra, enquanto eu não atingia os limites da minha surpresa. Gonzaga de Sá nunca me aparecera com esse aspecto de sentimentalidade comum. Em começo eu o achei uma natureza fria, depois um despeitado, em seguida uma espécie de pura inteligência que via a vida e as suas instituições para lhe colher os aspectos contraditórios. Um dia em que muito eu pensava sobre ele, achei-o da raça daquele André Maltère, de Barrès, que nasceu para compreender e desorganizar. Como neste momento me surgia sentimental, quase lamuriento?