amor de coisa d’arte com que os habitantes dos grandes centros prezam as coisas do campo. Desse modo era um gosto ouvi-lo sobre as coisas velhas da cidade, principalmente os episódios tristes e pequeninos. Com uma memória muito plástica, de uma exatidão relativa mas criadora, ele não tinha securas de foral, de cartas de arrendamento ou sesmaria, nem tinha inclinação por tais documentos; e animava a narração pontilhando-a de graça, de considerações eruditas, de aproximações imprevistas. Era um historiador artista e, ao modo daqueles primevos poetas da Idade Média, fazia história oral como eles faziam as epopeias. Das coisas, dois ou três aspectos feriam-no intensamente, e sobre eles edificava uma outra mais bela e mais viva. Certa vez, não sei a que propósito, lembrei-me de observar ao meu amigo o seguinte:
— Este Rio é muito estrambótico. Estende-se pra aqui, pra ali; as partes não se unem bem, vivem tão segregadas que, por mais que aumente a população, nunca apresentará o aspecto de uma grande capital, movimentada densamente.
Ele me ouviu calado e depois me disse com aquela pausa de que dispunha certas vezes: