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Graciliano Ramos

— Ahn!

Sinha Victoria moveu o abano com força para não ouvir o barulho do rio que se approximava. Seria que elle estava com intenção de progredir? O abano zumbia, e o rumor da enchente era um sopro, um sopro que esmorecia para lá dos joazeiros.

Fabiano contava façanhas. Começara moderadamente, mas excitara-se pouco a pouco e agora via os acontecimentos com exaggero e optimismo, estava convencido de que praticara feitos notaveis. Necessitava esta convicção. Algum tempo antes acontecera aquella desgraça: o soldado amarello provocara-o na feira, dera-lhe uma surra de facão e mettera-o na cadeia. Fabiano passara semanas capiongo, phantasiando vinganças, vendo a criação definhar na catinga torrada. Se a secca chegasse, elle abandonaria mulher e filhos, coseria a facadas o soldado amarello, depois mataria o juiz, o promotor e o delegado. Estivera uns dias assim, murcho, pensando na secca e roendo a humilhação. Mas a trovoada roncara, viera a cheia, e agora as gotteiras pingavam, o vento entrava pelos buracos das paredes.