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Graciliano Ramos

meio de introduzir o diabo do calcanhar no tacão. A um arranco mais forte, a alça de traz rebentou-se e o vaqueiro metteu as mãos pela borracha, energicamente. Nada conseguindo, levantou-se resolvido a entrar na rua assim mesmo, coxeando, uma perna mais comprida que a outra. Com raiva excessiva, a que se misturava alguma esperança, deu uma patada violenta no chão. A carne comprimiu-se, os ossos estalaram, a meia molhada rasgou-se e o pé amarrotado se encaixou entre as paredes de vaqueta. Fabiano soltou um suspiro largo de satisfação e dor. Em seguida tentou prender o collarinho duro ao pescoço, mas os dedos tremulos não realizaram a tarefa. Sinha Victoria auxiliou-o: o botão entrou na casa estreita e a gravata amarrou-se. As mãos sujas, suadas, deixaram no collarinho manchas escuras.

— Está certo, grunhiu Fabiano.

Atravessaram a pinguela e alcançaram a rua. Sinha Victoria caminhava aos tombos, por causa dos saltos dos sapatos, e conservava o guarda-chuva suspenso, com o castão para baixo e a biqueira para cima, enrolada no lenço. Impossivel dizer porque sinha Victoria levava o