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Graciliano Ramos

um tiro de emboscada ou envelheceria na cadeia, cumprindo sentença, mas isto era melhor que acabar-se numa beira de caminho, assando no calor, a mulher e os filhos acabando-se tambem. Devia ter furado o pescoço do amarello com faca de ponta, devagar. Talvez estivesse preso e respeitado, um homem respeitado, um homem. Assim como estava, ninguem podia respeital-o. Não era homem, não era nada. Aguentava zinco no lombo e não se vingava.

— Fabiano, meu filho, tem coragem. Tem vergonha, Fabiano. Mata o soldado amarello. Os soldados amarellos são uns desgraçados que precisam morrer. Mata o soldado amarello e os que mandam nelle.

Como gesticulava com furor, gastando muita energia, poz-se a resfolegar e sentiu sede. Pela cara vermelha e queimada o suor corria, tornava mais escura a barba ruiva. Desceu da ribanceira, agachou-se á beira da agua salobra, poz-se a beber ruidosamente nas palmas das mãos. Uma nuvem de arribações voou assustada. Fabiano levantou-se, um brilho de indignação nos olhos.