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Graciliano Ramos

dias espiava, com o coração aos baques. As mãos grossas, por baixo da aba curva do chapeo, protegiam-lhe os olhos contra a claridade e tremiam.

Os braços penderam, desanimados.

— Acabou-se.

Antes de olhar o ceo, já sabia que elle estava negro num lado, cor de sangue no outro, e ia tornar-se profundamente azul. Estremeceu como se descobrisse uma coisa muito ruim.

Desde o apparecimento das arribações vivia desassocegado. Trabalhava demais para não perder o somno. Mas no meio do serviço um arrepio corria-lhe no espinhaço, á noite accordava agoniado e encolhia-se num canto da cama de varas, mordido pelas pulgas, conjecturando miserias.

A luz augmentou e espalhou-se na campina. Só ahi principiou a viagem. Fabiano attentou na mulher e nos filhos, apanhou a espingarda e o sacco dos mantimentos, ordenou a marcha com uma interjeição aspera.

Afastaram-se rapidos, como se alguem os tangesse, e as alpercatas de Fabiano iam quasi