Vidas Seccas
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Fabiano ouviu os sonhos da mulher, deslumbrado, relaxou os musculos, e o sacco da comida escorregou-lhe no hombro. Aprumou-se, deu um puxão á carga. A conversa de sinha Victoria servira muito: haviam caminhado leguas quasi sem sentir. De repente veio a fraqueza. Devia ser fome. Fabiano ergueu a cabeça, piscou os olhos por baixo da aba negra e queimada do chapeo de couro. Meio-dia, pouco mais ou menos. Baixou os olhos encandeados, procurou descobrir na planicie uma sombra ou signal d’agua. Estava realmente com um buraco no estomago. Endireitou o sacco de novo e, para conserval-o em equilibrio, andou pendido, um hombro alto, outro baixo. O optimismo de sinha Victoria já não lhe fazia mossa. Ella ainda se agarrava a phantasias. Coitada. Armar semelhantes planos, assim bamba, o peso do bahu e da cabaça enterrando-lhe o pescoço no corpo.

Foram descançar sob os garranchos duma quixabeira, mastigaram punhados de farinha e pedaços de carne, beberam na cuia uns goles d’agua. Na testa de Fabiano o suor seccava, misturando-se á poeira que enchia as rugas