44
Graciliano Ramos

desmancharia com um tabefe. Não tinha desmanchado por causa dos homens que mandavam. Cuspiu, com desprezo:

— Safado, mofino, escarro de gente.

Por amor duma peste daquella, maltratava-se um pae de familia. Pensou na mulher, nos filhos e na cachorrinha. Engatinhando, procurou os alforges que haviam cahido no chão, certificou-se de que os objectos comprados na feira estavam todos ali. Podia ter-se perdido alguma coisa na confusão. Lembrou-se duma fazenda vista na ultima das lojas que visitara. Bonita, encorpada, larga, vermelha e com ramagens, exactamente o que sinha Victoria desejava. Encolhendo um tostão em covado, por sovinice, acabava o dia daquelle geito.

Tornou a mexer nos alforges. Sinha Vitoria devia estar desassocegada com a demora delle. A casa no escuro, os meninos em redor do fogo, a cachorra Baleia vigiando. Com certeza haviam fechado a porta da frente.

Estirou as pernas, encostou as carnes doídas ao muro. Se lhe tivessem dado tempo, elle teria explicado tudo direitinho. Mas pegado de surpresa, embatucara. Quem não ficaria azu-