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Graciliano Ramos

tinho, um zumzum nos ouvidos, percebendo vagamente que escapara sem honra da aventura.

Viu as nuvens que se desmanchavam no ceo azul, embirrou com ellas. Interessou-se pelo vôo dos urubus. Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu.

Sentou-se, apalpou as juntas doídas. Fôra saccolejado violentamente, parecia-lhe que os ossos estavam deslocados.

Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam tel-o prevenido. Não descobriu nelles nenhum signal de solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, seria, desapprovava tudo aquillo. Achou-se abandonado e mesquinho, exposto a quedas, coices e marradas.

Ergueu-se, arrastou-se com desanimo até a cerca do bebedouro, encostou-se a ella, o rosto virado para a agua barrenta, o coração esmorecido. Metteu os dedos finos pelo rasgão, coçou o peito magro. O tropel das cabras perdeu-se na ladeira, a cachorrinha ladrou longe. Como estariam as nuvens? Provavelmente algumas se transformavam em carneirinhos, outras eram como bichos desconhecidos.