Caiu a mulher doente,
Bastante desbilitada,
Desprezada das amigas
Por quem era visitada,
No meio desse desprezo
Apresentou-se pejada.
Foi-se approximando o dia
Que deu á luz o filhinho:
Nasceu em tanta pobreza
Que enrolou-se em mulambinho,
Por sua grande miseria
Foi diffice achar padrinho.
Criou-se sem ir á Missa
E nunca se confessou,
Pôz os pés na santa Igreja
Só quando se baptisou,
Negocio de penitencia
Elle nunca procurou.
Esmola por caridade
Isso nunca que elle deu;
Deitava e se levantava,
Porém nunca se benzeu;
Viveu assim, deste gosto,
Té o dia em que morreu.
Logo assim que elle morreu,
Cobriu-se os montes dum véo
Mas a alma, como invisive,
Chegou ás portas do céo,
Em tristeza amortalhada
Para dar contas de réo.
Mais de doze mil demonios
Tudo isso lhe acompanhavam,
Uns se rindo, outros soltando