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VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO

tabelece-se, porêm, a verdadeira ortografia de pior, lial, rial (antes peior, leial, reial), em que um ei anterior se condensou em i, como aconteceu com igreja (forma antiga eigreja) e como ainda hoje acontece com o prefixo eis- (ex-), que é usualmente pronunciado is. O último exemplo citado, rial, de rei, fica assim diferençado de real, procedente do latim res.

O verbo criar será semelhantemente escrito com i, pois a sua conjugação é crio, crias, e não creio, creias, e portanto escreveremos também criador, criatura, criança, qualquer que seja a acepção em que se tomem tais palavras. O verbo recrear, todavia, escrever-se há com e, porque a sua conjugação é com ei, recreio, recreias; devendo ter-se em atenção que o i intercalar, para evitar o hiato recreo, só tem cabimento quando o e do radical é predominante, e conseguintemente escreveremos passear, cear, desfear, passeio, ceio, desfeio, e não passeiar, ceiar, etc.

Há considerável número de verbos, como alumiar, gloriar, aviar, que se conjugam alumio, glorio, avio, sendo portanto a vogal final do seu radical i e não e. Todavia, por influência daqueles em que essa vogal radical é, pelo contrário, e, que átono se profere i, alguns verbos em iar confundiram-se com êsses, e é já hoje impraticável a correcção. Os principais dêstes verbos são os seguintes, e convêm que não se traslade a outros a irregularidade que se manifesta neles: ansiar, anseio; negociar, negoceio; obsequiar, obsequeio; premiar, premeio; odiar, odeio; remediar, remedeio. Em outros, menos triviais, é duvidoso o modo de os conjugar, como licenciar, presenciar, sentenciar, que muitos preferem conjugar licencio, presencio, sentencio, conquanto as formas licenceio, presenceio, sentenceio sejam muito mais usuais. É claro que a irregularidade se não deve trasladar aos substantivos correspondentes, e que portanto escreveremos ânsia (e não âncea ou ânsia), negócio, obséquio, ódio, prémio, remédio, e assim tambêm com i os derivados, odioso, obsequioso, etc.

XVII.—

Na pronúncia do sul de Portugal o s antes de consoante surda, e quando é final, profere-se como x atenuado, e sendo a consoante sonora, como j, igualmente atenuado. Se em tais condições está precedido de e surdo, êste e, por assimilação, palataliza-se e fica sendo igual a i na mesma situação, de modo que os dois vocábulos pescar e piscar só artificialmente se distinguem; assim tambêm a primeira sílaba de esteira confunde-se com a primeira sílaba de história, e tanto, que antigamente se escrevia estórea