mostrava que Procópio Dias já não suspeitava nada? Jorge sorriu e replicou:

— O que o senhor acaba de dizer não será animador, mas persuado-me que é a realidade pura. Admira-me somente que tenha tanta penetração e superioridade para ver e confessar os vícios da natureza humana...

— Sou prático, tornou o outro sorrindo. Raras vezes me irrito, conquanto lastime sempre o que é fraqueza ou perversão. Assim, por exemplo, eu não lhe ficaria querendo mal se o senhor me houvesse iludido agora acerca de seus sentimentos, porque o seu interesse e o seu dever é negá-los.

— Perdão; já lhe dei minha palavra...

— Não deu, nem eu lha pedi, nem pediria, porque a palavra de honra não obriga a consciência, quando é dada para salvar uma questão de honra. O senhor poderia dá-la sem sinceridade nem remorso. Já não é a mesma coisa se me jurasse, porque o juramento, invocando o testemunho de um ente superior, esse obriga a consciência que não está pervertida.

— Não exige de mim que jure, espero eu? disse Jorge.

— Há ainda uma raiz de dúvida em meu coração, replicou Procópio Dias sorrindo.