Meu amigo e colega Juvenal Calheiros é um pai exemplar que cuida com toda a solicitude da educação dos filhos.

Procura bons colégios, informa-se dos professores, segue as lições dos meninos - isto tudo sem o menor desfalecimento.

De resto, ele é um patriota, crente na grandeza do Brasil, nas suas riquezas e no seu futuro; põe, portanto, todo o seu esforço em instilar no espírito dos seus pimpolhos essa sua forte e virtuosa crença.

Damo-nos muito, desde o colégio primário, e frequento-lhe a casa, vivo na intimidade de sua família, o que me dá grande gosto, pois, não tendo propriamente família, aprecio muito a família dos outros.

Não sendo rico, tem Juvenal alguma coisa e vive com certa abastança, em uma boa casa lá das bandas de Vila Isabel.

Domingo, não tendo onde ir, nem mesmo às festanças da Quinta da Boa Vista, cujos recantos, cuja placidez, cuja majestade de parque principesco me encantam muito, quis ver o meu amigo.

É preciso que eu lhes diga que não fui à quinta, porque não vou a lugares públicos quando se paga. Julgo que, po­dendo eu ir sem pagar a certo lugar, não vou gastar dinheiro para lá ir. Nesse ponto, não sou como o resto do Rio de Janeiro.

Continuo a narração. Tomei o bonde conveniente e parti para a casa do meu amigo, apreciando o domingo, cheio de rapazes endomingados, de damas de laçarotes, de automóveis pejados de gente, de jogadores de football,de amadores de corridas, - gente feliz por ter um dia em que não faz nada.

Cheguei em boa hora à casa do meu amigo que conversava na chácara com a família. Ainda liam, ele e os fi­lhos, os jornais.

Não quis interromper-lhes a leitura e acertei um jornal para, relendo-o, não impedir a leitura deles.

A dona da casa estava no interior tratando de negócios caseiros.

Num dado momento, um dos filhos do meu amigo, descansando os jornais, perguntou ao pai:

— Papai, o Brasil não é um país muito rico?

— É.

— Tem ferro?

— Tem.

— Tem cobre?

— Tem.

— Tem zinco?

— Tem. Porque tu perguntas isso?

— É que vejo os jornais muito indignados porque querem exportar ferro velho, cobre, etc. Se nós temos ferro, cobre na terra, porque tal zanga?

A dona da casa veio convidar-nos para o almoço.

Careta, Rio, 31-7-1915.