SENHORAS
2 Bem, porque a cousa é boa,
Bem, porque será assim,
Bem, porque haverá segredo,
Bem, porque é justo o fim.
3 Mal, porque a cousa é má,
Mal, porque não se obra assim,
Mal, porque não haverá segredo,
Mal, porque não é bom o fim.
4 Todos já sabem de tudo,
Tudo tintim por tintim,
Porém julgam que p'ra mal
Vós lhe déstes este sim.
5 Na virtude de teu peito
Té o mal acha bom fim,
Para bem será portanto,
Inda que p'ra mal o sim.
6 Mal, que o não é mais prudente,
Sempre um sim é perigoso,
Embora, minha senhora,
Seja elle amante extremoso.
7 Sim, ou não, elle pedio-vos,
E vós lhe dissestes sim.
Vós talvez com muito bom,
Elle sempre com máo fim!
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HOMENS
2 Para bem, para mal não,
Mas sêde em tudo discreto;
Pagareis com a propria vida
Se fôrdes muito indiscreto.
3 Talvez seja para mal...
Do bem q' importa a apparencia?
Occulta-se muitas vezes
A maldade na innocencia.
4 Silencio!... A hora já bate!
Escutai;—é a sua voz...
Parti... mas é para mal!
Lá jaz a vingança atroz!
5 Para bem se foi de moça,
Para mal se não foi não;
Decidi-vos por vós mesmo,
Segui vossa vocação.
6 Nem para mal, meu senhor,
E tão pouco para bem;
Ella disse sim, por não,
Sem se importar com ninguem!
7 Para bem e para mal,
Que tanto nasce de um sim,
Que ella vos disse vos dando
Um raminho de jasmim.
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SENHORAS
8 Bem, emquanto houver ventura,
Tal a vontade de amor;
Mal, quando fôr-se a ventura,
Tal é de amor o rigor.
9 Dar um sim a um tal velho,
Que tem mais callos que annos,
E' querer mal a si mesma,
Tecendo a si mesma enganos.
10 Sim a um velho se não dá,
Não a um moço se não diz:
Mas fizestes ao contrario,
Sereis portanto infeliz.
11 Se é para bem, oh bem póde
Ser para algum mal tambem,
Se é para mal, oh bem póde
Ser tambem para algum bem.
12 Para bem, não póde ser,
Para mal, ainda peior;
E' assim, assim, assim,
O não dar era melhor.
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HOMENS
8 Silencio!... Nem mesmo quero
Dizer-vos isso em segredo,
Que ventura de taes sins
Neste mundo não concedo.
9 Eu não sei do vosso amor,
Nem se ella vos deu um sim;
Se vos deu, meu namorado,
Não foi, não, para bom fim.
10 Não foi para boa cousa,
Não foi para má acção,
Ella vos disse que sim,
Como vós diria não.
11 As moças para mangarem
A’s vezes dizem que sim;
Cada qual por si se julgue,
Que eu cá me julgo por mim.
12 Não, não, vos disse ella logo,
Teimaste, e ella por fim,
Vos querendo fazer bem,
Vos fará mal com esse sim.
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