Paulo, ambicionando uma melhor posição para o futuro, resolveu-se a vir apresentar nesta corte, aos entendedores da sua arte, alguns trabalhos que possuía e tinha em conta de bons.
— Os mestres me farão justiça - pensava ele construindo in mente os seus castelos -, meu nome chegará aos ouvidos dos protetores das artes e eles me encaminharão. Eu terei diante dos olhos a estrada de um futuro risonho; oh! como eu caminharei ovante e como a minha pátria terá depois orgulho em pronunciar o meu nome!
Inexperto artista! como ele dava importância ao orgulho da sua pátria, que só se orgulha em pronunciar os nomes dos seus devotados charlatões!
Inexperiente! tu é que te deveras encher de orgulho, porque a pátria não te sabia o nome!
— Chego à corte - continuava ele -, estou ali seis meses, pelo máximo, recebo a chave do futuro e torno a estes lares queridos, ao seio de minha mãe, às carícias de minha irmã e aos eternos desvelos de Emília e depois?... Toca a trabalhar, toca a ser mais feliz do que já o sou agora, e para sê-lo ainda mais.
O laborioso mancebo tinha feito algumas economias dos lucros dos seus trabalhos. Na sua gaveta havia seguramente perto de um conto de réis.
Contava com a metade daquela quantia, podia à vontade levar avante todas as proezas que imaginava, digo proezas porque o inexperto metia no meio das suas reflexões o nome da sua querida pátria!
Paulo revelou à sua noiva todos os seus desígnios. Não foi sem grande abalo que Emília recebeu semelhante noticia, e embalde tentou dissuadi-lo do propósito apresentando-lhe as mais tocantes objeções de amor.
Na presença, porém, de seu pai, a quem Paulo comunicava a resolução que tinha tomado, e concordando ele, depois de razoáveis reflexões, Emília pareceu também concorde concedendo às reflexões de ambos.
Naquela ocasião Paulo marcou o prazo de dez meses para levar a efeito o seu compromisso, decidindo-se a seguir viagem para esta corte na primeira ocasião, o que se dava daí a doze dias, mais ou menos.
O carinhoso filho não sabia como fizesse chegar aos ouvidos de sua desvelada mãe aquelas intenções. Foi-lhe preciso muito esforço e ainda a presença do comendador.
A boa mãe comoveu-se em extremo, indignando-se até contra as aspirações do filho.
— Queres - soluçava ela - queres ser mais feliz do que te faz o seio de tua mãe? Tens razão, parte, filho, vai ser feliz!
E o filho não tinha uma palavra com que respondesse a amarga ironia que lhe dirigia a consternada mãe.
Aquelas palavras doeram-lhe no íntimo da alma, doeram-lhe, que ele bem compreendeu o doloroso de suas expressões.
— Aqui está - continuou ela dirigindo-se ao comendador -, aqui está para que Deus dá à criatura um filho! Para ter em um mau dia de separar-se da pobre mãe, que não o pode acompanhar por essas estradas do mundo! E se a pobre criança cai doente? E a infeliz mãe que não lhe pode ouvir os gemidos? Ai, pobre filho sem mãe que não terás quem te dê um caldinho, quem te mude o lençol da cama, quem te acompanhe nos teus sofrimentos! Deus me perdoe, senhor doutor, a mim que nesta hora não sei o que me vem à boca de dentro deste aflito coração, ele me perdoe, pecadora, que muito pouco tenho sofrido, mal comparada com o que padeceu o seu bendito filho; mas era melhor que ele não desse filhos à mulher, ou que os desse com a única condição de eles nunca se separarem dela!
E chorava como se me tivesse morrido o filho.
O comendador dirigiu-lhe algumas palavras consoladoras. Paulo também soluçava, e Emília e Henriqueta contemplavam comovidas aquela cena de aflições com os olhos umedecidos.
A boa mãe, porque ouvia que o filho soluçava também foi pouco a pouco reprimindo as dores, até que resignada concordou que ele partisse.