Apresentar um livro de um intelectual autor de vários títulos, inclusive de uma Enciclopédia, é uma tarefa difícil e, ao mesmo tempo, uma dádiva que enriquece meu currículo. Foi isso que pensei, quando aceitei o convite de Salvatore D’ Onofrio para prefaciar esta obra, que tive o prazer de saborear ao longo de sua elaboração, fazendo uma leitura prévia e dando palpites.

Fernando Pessoa diz em um poema muito conhecido que “navegar é preciso, viver não é preciso”. Entendemos esta frase como uma metáfora da nossa existência, ou seja, o importante é não abrir mão da vocação para a vida verdadeira, latente em cada um de nós, em troca da segurança medíocre de nosso dia a dia. Ao parafrasear o poeta, colocando como título desta obra que “Pensar é preciso”, o autor, por certo, pretende instigar no leitor o seu desejo de busca de um conhecimento que, partindo dos pensadores tradicionais, seja interpretado à luz de seu raciocínio e visão de mundo.

Disse antes que degustei este livro em seu original porque na realidade suas páginas vêm recheadas de um sabor intelectual tão generoso que será impossível não se apaixonar pela sua leitura. A obra pretende ser um guia para compreendermos a história da aquisição do conhecimento e, para tanto, Salvatore parte dos temas de grandes pensadores desde épocas mais longínquas até os dias atuais. Desta forma, passa em revista suas idéias pessoais a respeito da religião, da política, da filosofia, da vida em sociedade, enfim, ele pretende levar o leitor a uma esfera em que o próprio possa não só desfrutar de sua obra, mas também pensar seus próprios pensamentos a respeito da mesma. Assim, seu ponto de partida é a consideração de que o afastamento do homem das fontes do conhecimento obscurece sua visão para o mundo real, que ele mitifica para não entrar em contato com aquilo que o obrigaria a questionar-se.

Em sua obra “Introdução ao pensar”, Arcângelo Buzzi afirma exatamente isto: temos que aprender a pensar, decodificando os conceitos estabelecidos para que, decodificados, eles retornem à nossa própria experiência da verdade pensada. Naturalmente, nenhum homem deveria deixar-se levar por verdades dogmáticas, impedindo-nos de pensar e interpretar aquilo que o dogma propõe como verdade irrefutável. A obra de Salvatore propõe de forma clara esta necessidade, que se torna mais evidente quando aborda o dilema entre fé e razão, dilema que se transforma em um dos pilares básicos de seu trabalho. De fato, o autor não faz mistério quanto ao seu livre pensar e, às vezes, torna-se “impiedoso” ao não fazer aqui qualquer tipo de concessão. Esta postura, aliás, é que enriquece sua obra, torna-a autêntica, obriga o leitor a assumir uma posição às vezes dolorosa para ele e seus pares, porque choca ao levantar questões antes não pensadas.

Mas, afinal, para que serve uma obra literária se não obrigar o leitor a pensar por si mesmo na busca de soluções para seus problemas existenciais ou de qualquer outra natureza? Se a obra de Salvatore conseguir convencer o leitor de que pensar é preciso, por certo ele já se sentirá recompensado. Sem ser um livro de auto-ajuda nos moldes convencionais, “Pensar é preciso” é uma obra que ajuda o leitor a questionar o que nunca fora por ele sequer pensado.

WILSON DAHER
(Psiquiatra e membro da Academia Riopretense de Letras e Cultura)