A cidade mais importante da Grécia leva o nome de uma divindade, Atena, cultuada em Roma com o nome de Minerva. Deusa da sabedoria e da guerra, nasceu já armada da cabeça de Júpiter, que lá a colocou para esconder o fruto de seu adultério com Métis, a personificação da Prudência. Apenas o s final distingue o nome da cidade do da deusa. Ao longo de longos séculos obscuros, ocorreu a unificação de vários povoados que, a partir do séc. VI, deram origem a uma cidade com uma estrutura política consistente. O apogeu deu-se sob o governo de Péricles (495-429). Em pouco mais de meio século de liberdade política, Atenas, que já tinha a herança da poesia épica (Homero) e didática (Hesíodo), criou a poesia lírica (Safo, Píndaro), trágica (Ésquilo, Sófocles, Eurípides), cômica (Aristófanes), as artes plásticas (especialmente a arquitetura), a historiografia, a retórica, as olimpíadas.
Sem dúvida alguma, a maior conquista da Grécia foi a instituição do regime democrático, que possibilitou alcançar tão alto grau de civilização. Péricles entendeu que o melhor tipo de governo é aquele baseado na vontade da maioria e não apenas de um indivíduo ou de uma elite dominante. E o sustento da democracia é a “meritocracia”, cada qual ganhando conforme o mérito, independentemente da classe social a que pertencer. Mas, no mesmo tempo em que o grande estadista estimulava o sentimento cívico, enaltecendo os valores da igualdade de todos perante a lei e a justa recompensa pelo trabalho realizado, ele, na prática, cultivava a demagogia, que se tornou a maior praga da democracia. Para angariar votos, ele inventou a “mistoforia”, a remuneração para quem ocupava cargos do governo, o financiamento público de espetáculos teatrais e outras formas de ajuda à massa popular. Este tipo de populismo foi condenado pelo filósofo Sócrates que censurou Péricles por tornar os cidadãos de Atenas preguiçosos e corruptos. E não sem razão, pois o estadista acabou sendo condenado por prática de peculato. Os atuais políticos brasileiros têm gloriosos antecedentes!
O espírito inventivo dos gregos transformou os principais mitos sobre deuses e heróis, transmitidos pela tradição oral, em obras de arte literária e plástica, tornando-os eternos. Mesmo quando acabou a crença no politeísmo grego, ficou sua mensagem cultural pela ação transformadora e indelével da arte. A partir do séc. IV, com a perda da independência (batalha de Queronéia, 338), submetida a Felipe II da Macedônia, Atenas começou seu declínio. Seu espírito inventivo se transformou em reflexivo, produzindo grandes filósofos, como veremos a seguir.
A capital da Grécia, então, se tornou centro de debates, passando a questionar as verdades religiosas, antes aceitas sem discussão. Atenas deu origem à primeira forma de Humanismo, pois o parâmetro para a vida em sociedade passou a ser o homem e não mais a divindade. A cultura grega apresenta a idéia inovadora de que os padrões existenciais estão embutidos na própria realidade, perceptíveis pelo raciocínio, sem precisar recorrer ao sobrenatural. Com o culto da filosofia, o pensamento se descobre a si próprio, se acostuma a refletir e dialogar, substituindo os dogmas religiosos pelas leis da lógica e do bom senso.