Revolução bolchevique: Lênin e Stalin
No decorrer da Primeira Guerra Mundial, o sonho da instalação de um governo de regime comunista encontrou condições favoráveis na Rússia, o grande país do Leste europeu. O imperialismo czarista de Nicolau II tornou aguda a crise crônica da miséria social. As tropas descontentes, os camponeses famintos e os operários explorados se juntaram a intelectuais simpatizantes com os ideais do nascente marxismo, que pipocavam em países da Europa central. Em 1917, a Revolução Comunista depõe o czar e implanta um “Estado operário e democrático”. O líder da transformação radical foi Lênin, um jovem marxista, que tivera um irmão executado por pertencer a um grupo populista contrário à ditadura czarista. Ele viajou pela Suíça, Alemanha e França, onde entrou em contato com os movimentos socialistas. Ao voltar para sua terra foi detido e condenado à deportação na Sibéria. Após a Revolução de Outubro, Lênin se tornou o primeiro chefe de Estado da antiga URSS.
Lênin, no II Congresso dos Sovietes (“conselhos” populares), põe em evidência os princípios ideológicos dos Bolchevistas (“a maioria” dos revolucionários que se vestiam de vermelho), entre os quais se destacam: separação da Igreja e do Estado; reforma agrária; igualdade entre homens e mulheres; controle das empresas pelos operários; nacionalização dos bancos. O mais triste é que, para consolidar a revolução proletária, ele reputou indispensável silenciar os inimigos da classe operária, dando o primeiro passo para a construção de um Estado policial cruel e autoritário. Respondeu-se, portanto, à violência czarista com outra violência, a do regime comunista, que fez milhares de vítimas para se consolidar no poder.
Observamos, de relance, que eliminar a memória do passado é condição essencial para a afirmação de qualquer modalidade de totalitarismo. O que a Igreja da Idade Média fez com relação à cultura greco-romana é semelhante ao que o marxismo tentou fazer na Europa moderna, apagando a memória do passado através de lavagem cerebral, de processo de depuração de idéias. Lênin, na luta para subjugar a velha Rússia e instaurar o comunismo, não tolerou nenhuma voz dissonante. Assumiu o papel de um Messias, o dono de uma nova verdade inquestionável. E o povo acreditou tanto nele que seu corpo não foi enterrado, mas embalsamado, na espera de que o progresso da ciência pudesse fazer dele o primeiro ser humano a voltar à vida. Infelizmente, o ser humano não consegue viver sem mitos: mata um (Cristo) e logo cria outro (Lênin)!
Feroz ditador foi, porém, Josef Stalin, o secretário-geral do partido comunista, que sucedeu à morte de Lênin e governou a ex-URSS com métodos brutais, por quase três décadas, de 1924 a 1953. Egresso de um seminário ortodoxo, juntou-se a Lênin em 1905, também ele sendo preso e deportado. Após a Revolução, passou a fazer parte do politburo, promovendo um processo de centralização e de coletivização da produção. Estimulou a indústria pesada e conseguiu um grande progresso tecnológico graças à disciplina operária, ao trabalho forçado e ao culto da ideologia socialista. Apoiado num poderoso aparelho estatal, para livrar-se dos inimigos políticos procedeu a um expurgo maciço, eliminando antigos dirigentes do Komintern e do Exército Vermelho. Em 1941 aderiu à Segunda Guerra Mundial, lutando contra a Alemanha nazista.
A vitória bélica e a corrida espacial deram a Stalin enorme prestígio na Rússia e nas democracias populares anexadas à URSS. E a onda de repressão dentro e fora da União Soviética continuou até sua morte, em 1953. A ele sucederam mais cinco Chefes do Império Soviético: Kruchev, Brejnev, Andropov, Chernenko e Gorbachev. Este último, face à crise econômica do regime comunista, tentou conciliar o sistema totalitário com as liberdades democráticas pelos processos da Glasnost (transparência), que permitia liberdade de expressão, e Perestróica (reestruturação), que adaptava o sistema econômico à nova realidade. Enfim, em 1989, o Comunismo no Leste europeu chegou ao fim. Acabou a Guerra Fria e foi derrubado o muro de Berlim, juntando outra vez a Alemanha Ocidental com a Oriental. Atualmente, o regime comunista ainda persiste em alguns países (China, Coréia do Norte, Cuba), mas com adaptações exigidas por novas realidades sociais.