Mas o triunfo do cientificismo não teve vida longa. Como já vimos, a crença de que a ciência, descobrindo as causas dos fenômenos naturais, os fatores genéticos e as condições econômicas, pudesse resolver todos os problemas existenciais não deixou de ser apenas um mito a mais. Além dos inegáveis benefícios, a Revolução Industrial não deixou de ter algumas consequências desastrosas: apontamos apenas o aumento dos bolsões de miséria nas cidades pelo êxodo do campo. O progresso científico não impediu a ocorrência de catástrofes causadas pela estupidez humana, tais como as duas Guerras Mundiais, as explosões da bomba atômica no Japão, a Guerra do Vietnã, as lutas religiosas na Irlanda do Norte e no Oriente Médio, o genocídio de judeus, a miséria absoluta em que vivem países subdesenvolvidos da África, da Ásia, da América Latina.

A crise das ciências exatas, que se achavam detentoras da certeza e da verdade, foi consequência de várias tendências do pensamento reflexivo do início do século XX: o intuicionismo, de Bérgson; o existencialismo, de Kierkegaard, Heidegger e Sartre; a psicanálise, de Freud e Jung; a Teoria da Relatividade, de Einstein; a fenomenologia, de Husserl; o comunismo, de Marx e de Lenin; a psicologia, de Piaget; a percepção da totalidade do gestaltismo; a superação do conceito de personalidade única, da univocidade da verdade e do absolutismo da certeza, expressa artisticamente pela poesia heterônima de Fernando Pessoa e pelo teatro de Pirandello, em que a personagem de ficção, à semelhança da pessoa do mundo real, é apresentada como ser plurifacetado, sem coerência de caráter.

Todo esse complexo ideológico põe em crise o método de investigação científica que já se tornara tradicional. Em primeiro lugar, nega-se a validade de um método único para qualquer tipo de pesquisa, admitindo-se uma primeira grande divisão entre o sistema epistemológico das ciências exatas e biológicas, com relação à metodologia aplicável ao estudo das ciências humanas. Para o primeiro tipo de conhecimento, o chamado método científico no sentido estrito, com base na indução com seus dois momentos da observação e da comprovação, é muito eficiente; mas, para o conhecimento das humanidades (Filosofia, Letras, Artes Plásticas, Teatro, Cinema, Psicologia, Sociologia, Direito), funciona melhor o método dialético, mais apto a apresentar a discussão das ideias, a análise de sentimentos opostos, o questionamento das convenções ético-sociais.

O modelo matemático é, por sua natureza, demonstrativo e indiscutível, tendo como caráter peculiar a clareza, a certeza, a imutabilidade; já o modelo da linguagem natural, que dá formas às artes, à sociologia, à jurisprudência, não tem uma cadeia de razões indefectíveis, vivendo um contínuo processo de disputa, estando as ideias sempre em litígio. Se a verdade científica é unívoca e a verdade humana é poliédrica, nada mais justo que haja uma diferenciação metodológica para o conhecimento desses dois macrocosmos.

Ultimamente, porém, a própria certeza do modelo matemático do saber entrou em crise. Como acenamos, ao tratarmos do conhecimento científico, não existem valores completa e eternamente absolutos. Além disso, é preciso refletir sobre o fato de que o discurso científico não pode ser inteiramente separado do discurso político, social, ético, artístico, pois o homem que faz ciência não pode alienar-se dos valores da comunidade onde vive. Um moderno estudioso da metodologia científica, Karl Raimund Popper, ao romper com o positivismo lógico da escola de Viena, afirma que o estudo da cosmologia não pode ser dissociado do problema fundamental do homem: entender o mundo em que vivemos implica o conhecimento de nós mesmos e de nossos vizinhos!

A conclusão a que podemos chegar, após essa breve exposição do pensamento dos principais estudiosos da Teoria do Conhecimento, não deixa de ser uma corroboração do óbvio: não existe um método único aplicável a qualquer tipo de pesquisa. Além do discurso das ciências, há o discurso das artes, da filosofia, da crítica, cada qual exigindo um caminho próprio a ser percorrido. Mas existe também algo em comum que deve amalgamar todas essas linguagens, distinguindo a atividade verdadeiramente intelectual do charlatanismo: a seriedade da pesquisa, a busca da verdade, a honestidade profissional, a coerência metodológica, a indignação perante a mentira, a injustiça, a tirania, o estímulo à reflexão sobre a vida na natureza e em sociedade com a intenção de melhorar o convívio entre os homens. Gostaríamos de finalizar este capítulo lembrando um pensamento de Einstein:

“A única finalidade da educação deve consistir em preparar indivíduos
que pensem e ajam como indivíduos – independentes e livres.”