A Isidoro Martins Júnior

O PIANO, o piano e o coração.

Ó melodias do coração, ó harmonias do piano.

Chopin, Gounod, Métra, Strauss, Beethoven, Gottschalk, constelação gloriosa de boêmios de ouro!...

Quando o piano musicaliza, caracteriza, espiritualiza as longas escalas cromáticas, os adoráveis allegros, os interessantes pizzicatos, quem fala primeiro que os cérebros artísticos, é o coração.

Ele canta mais alto que todos os órgãos humanos.

O coração é o pulso do cérebro artístico.

Pela temperatura e o grau de sentimento de um, o músico estabelece a proporção do outro.

Um dirige, outro executa.

Um tem a fórmula, outro funciona.

Um é o oxigênio, outro o carvão.

Um faz o relâmpago, outro produz o raio.

Coração e cérebro aliam-se, homogeneízam-se.

Assim o piano, eternamente assim.

O coração é a luta, as grandes tempestades desoladoras, varadas de cóleras surdas de vendavais gargalhantes e intérminos, de frios que estortegam, enregelando as noites soturnas das trevas compridas e absolutas; o coração é a maciosidade dos linhos, a candidez consoladora dos luares estrelados, a fluidez elétrica dos perfumes excitantes, as expansivíssimas alegrias, castamente sonoras e sonoramente castas.

O coração ruge e vibra.

Assim o piano. Cada palpitação do piano, é uma fibra do coração, que bate.

Tem os mesmos triunfos, os mesmos humorismos fúnebres, as mesmas imponências e coruscações, o piano.

Chora e canta, ri e soluça.

Quanta vez o artista não canta, não ri e chora e soluça com o piano. Dizei à sensibilidade que emudeça.

À sombra que se subdivida, partícula por partícula, pela própria sombra.

O piano, como o coração, representa um ser complexo, com os elementos necessários, com os nervos, com os músculos de vitalidade dispostos, preparados, desenvolvidos, de forma a inflitrar nos demais seres, a seiva psíquica, a sangüinidade simpática da arte.