Poemas e Canções (Vicente de Carvalho, 1917)/Arte de amar
Se a tua amante é bela
E tem ciúme, finge que o não tens;
Não o perceba ela;
Ou caro pagarás
Com alma, corpo, e bens,
Cada uma dessas coisas pueris
Que um ciumento a cada passo faz
Ou diz.
Pois tua amante, fria como a neve,
É bela
E finge que te quer bem,
Que mais reclamas? Ela
Com ser linda e fingir - dá quanto deve
E tem.
E quanto mais tiveres
Boas razões, menos dirás que as tens:
Afinal, às mulheres,
Caro se paga em alma, em corpo, em bens,
A culpa de sem perdão
De ter, ter contra elas,
Razão.
Queixas de amor que tiveres
Não as dês a entender. nunca, a ninguém!
Mais valerá, calá-las, e sorrir:
Ouvidos de mulheres
Só ouvem bem o que lhes soa bem
E lhes convém
Ouvir
Pois tua linda amante
Finge que te ama- dá-te parabéns.
Declara-te feliz, e sê galante:
O seu amor que tu nâo tens
Que falta faz?
Melhor do que possuir o amor sempre exigente
De uma mulher que além de ser amada é bela
Mais vale à gente
Viver com ela
Em paz.
Engana-te ela e finge que és amado?
Engana-a tu também
Fingindo-te enganado:
Vivendo assim perfeitamente bem
Os dois,
Poupar-te-ás a quanto, injusta ou justa,
Uma cena de ciúme sempre custa
Depois...