It chante, et sa voix le consoler
Lamartine — A. M C. Nedier.
Quando no cimo das rochas
Sósinho vou meditar, —
E sinto as ondas, que fervem
Além nas beiras do mar;
Mysterios canto na lyra,
Mysterios do meu penar!
Quando as nuvens de mil cores
O berço enfeitam d’aurora;
Que das florinhas recolhe
O pranto, que a noite chora;
Secca-me o pranto dos olhos.
Ancia, que o peito devora!
Mas se uma brisa fagueira
Vem trazer-me a viração,
Como uma chuva de gêlo
Na cratera d’um volcão;
Eu sinto bater mais brando,
Docemente o coração! —
Depois de magoas sem fim,
Depois d’atroz padecer,—
Depois de negros tormentos,
Longas horas de gemer,
Sem a dor que me consome
Na minha alma adormecer:—
Ainda eu tenho no peito
Uma crença verdadeira,
Um farol de viva luz,
Uma esp’rança derradeira:
No livro da minha sina
Uma pagina inteira!
É este laço, que prende
O poeta ao Creador! —
Este mysterio, que vive
Na mente do trovador,
E lhe revela nos cantos
Um pensamento d’amor!
Junho de 1846.
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