Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/A virgem ao desabrochar
Que encantos não tem a virgem
Formosa o desabruchar!
E o dia alvorecendo,
E' qual sól a despertar;
E' tão linda como a roza,
Ao desfazer do botão,
Em antes de ser tocada
D'alguma travessa mão;
Tem dos Anjos a innocencia,
E revela só candura;
Traduz-se-lhe em gesto, e riso
Uma alma angelica, e pura:
E' linda como uma estrella
Lá no Céo a scintillar;
Nem eu sci, que haja mais bello,
Que a virge ao desabrochar!
A mulher pura, innocente,
E' do mundo a maravilha,
E' qual Anjo sobre a terra,
E' do Céo candida filha !
E' quem ao jóven poeta
Inspira cantos d'amor;
Quem lhe faz sentir no peito
Da paixão o vivo ardor:
Sonha-a linda, d'olhos negros,
Só, e triste a suspirar,
E tão meiga, e saudosa,
Como elle a busca p'ra amar;
Sonha-a pura, e tão pura, que seu berço,
Lhe imagina nos Céos, e a pátria sua;
Pede-a aos montes, e valles, delirando,
Pede-a aos homens, ao mar, ao sól á lua!