Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/No regresso de S. M para Lisboa

No regresso de sua magestade fidelissima A Senhora D. Maria ii para Lisboa.
 

Como passaram ligeiros
Da ventura os poucos dias,
Em que na terra gozamos,
Do Impyrêo as regalias!

Delicias do Paraizo,
Quem no mundo fez gozar?
Quem sentimentos tão puros
Aqui nos veio inspirar?

Quem poderia ganhar,
Tantos, tanlos corações,
Sympathias, tanto amor
E todas as affeições?

A não ser a Divindade,
Quem tal podia fazer?
Quem teria tal prestigio,
Para tanto surpreender?

Oh! sabem quem? um portento!
A Rainha mais ditosa,
Que tudo póde alcançar,
Por ser justa, e virtuosa!

Aquella, que engrandeceu,
O Céo, sem nada esquecer;
Virtudes, um throno excelso,
Tudo lhe quiz conceder!

Té da natureza os dons,
Oh não lhe foram negados,
A par de rara virtude.
Quanto são apreciados!

Intelligencia tão fina,
A mais linda eloquencia;
Para reger o seu povo,
Não lhe falla aurea sciencia.

Monotona esta cidade,
D'hoje ávante ficará,
A ausencia de Reaes Hospedes,
Seu encanto roubará.

Quanto em si nossa alma sente,
Não é vulgar affeição;
E' um amor puro, e forte,
Que domina o coração!

Não pensem, que nos atráhe,
Lá do throno o resplendor,
E' o poder da virtude,
Que venceu o nosso amor.

Para que nada faltasse
A nossa felicidade,
O Céo lhe deu um consorte,
Virtuoso, e com bondade:

Obsequioso, affavel,
A todos tem penhorado,
E mui sincera affeição
A todos tem inspirado.

Oh! que Soberana completa,
O Céo nos quiz outorgar!
E perante o mundo inteiro
Podemo-nos ufanar!

Rainha quanto aprazivel
Viver sempre ao lado vosso!
Ah! seria tal ventura,
Que decifral-a não posso!...

Mas é forçoso, que seja
Só Lisboa a mais ditosa ;
Resigna-te, Porto invicto,
Dá-te á mágoa pesarosa.

Recebei, regia familia,
Terno adeos de despedida,
E não vos olvide o amor,
Com que aqui foste acolhida.

Da capital os encantos,
Não vos façam olvidar
Os subditos portuenses,
Que ficam a suspirar!

Ai, partí! pois é forçoso!
O Céo sempre vos escude;
Vosso socego, e ventura,
Oxalá, que nunca mude.

E se a vibora invejosa
Da discordia lançar mão,
Lá o Céo lhe abra um abysmo.
Sepulte-se n'um volcão !...