Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Sapho
Que poetisa famosa
Não foi Sapho enamorada!
Que Musa tão primorosa
Era a sua apaixonada!
Foi poetisa d'amor,
E ninguem com mais ardor
Exprimiu a magoa, a dor
Da mulher abandonada!
A Grecia pode orgulhosa
O seu talento exaltar,
Por qu'outra mais portentósa,
Inda a não veio offuscar;
O seu canto altisonante
Vae correndo sempre avante,
Nascido d'um seio amante,
Que trovou a suspirar!..
Ditoso quem junto d'ella,
Lhe ganhasse o coração,
E da poetisa bella
Avaliasse a paixão!
Que venturoso mortal!
Não teve Sapho uma igual,
E jamais leve rival
Seu canto na inspiração!
Mas amou por desventura
Esse joven leviano,
Que su'alma nobre, e pura,
Não pôde tornar ufano,
E longe de comprehender
Seu valor, tanto saber,
Ingrato a foi esquecer,
Sem prever da triste o damno!
E pudéste, homem sem tino,
Sem alma, nem coração,
Renegar no teu destino
O mimo d'essa paixão?!
Sapho, que até orgulhoso
Tornara o Rei mais famoso,
Olvidaste-a desdenhoso.
Com infame ingratidão!!!
Dominada por amor,
Jámais se pôde vencer,
E da paixão n'esse ardor,
Resolveu então morrer!..
Por Phaon abandonada,
Adora-o mesmo olvidada,
E sendo tão desgraçada,
Jámais o pode esquecer!...
Sóbe ao Leucade fatal,
E vagueia um pouco errante;
Pára, hesita, e da rival
Recorda-se delirante,
E exclama: «Oh! venturósa,
«Tu, que desfructas gostosa
«Os encantos seus ditósa,
«De Phaon tu, que és amante!..
«Que feliz a tua estrella!
«Tu ámas, e és d'elle amada,
«Que venturosa donzella!..
«Eu amei; mas olvidada
«Fui no extremo da paixão,
«E senti no coração.
«Qual incendido volcão,
«Ai! soffri qual condemnada!..
«Para sempre adeos, cruel!..
«Phaon! Adeos...vou morrer!...
«Amo-te mesmo infiel,
«E já não posso conter
«Na minh'alma tanto amor!
«Augmentou com teu rigor;
«Mas agora é tal a dor,
«Que mais não posso viver!..
E já d'esse abismo á beira
Se aproxima em tremor fórte,
E pela vez derradeira
Lamenta o seu Fádo, e Sórte,
E estreitando ao coração
Um retrato de Phaon,
No delirio da paixão,
Lança-se ao mar, busca a morte!..